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quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Artigo sobre imigrantes em Brusque


 23/04/1921 grupo de atiradores em frente ao clube.

 Wilhelm Niebuhr, 13/05/1938 premiadíssimo atirador.

Páscoa 1974, chegada da marcha de atiradores ao clube.

A presença polonesa no Brasil

Texto apresentado no Simpósio Brasil - Polônia, Curitiba maio 1988. Centro de Estudos Latino-Americanos, Universidade de Varsóvia.






Nascido em Tomaszow/Polônia, o senhor Carlos Haacke chegou com seus pais a Brusque em 1896 aos 8 anos de idade.


Placa em uma praça pública de Brusque.

Crônica no Jornal ANotícia: poloneses

Gente de todo lugar: poloneses em Brusque



Reconhecimento do trabalho sobre poloneses



Do almanaque Perfil Cultural e Turístico de Brusque, julho / 2002 - Livraria e Editora Ana Paula Ltda.

A menina polonesa que descobriu o Brasil: tradução para o polonês







Bosque do Papa e Painel de Potty, em Curitiba



Prêmio pelo conto

A menina polonesa que descobriu o Brasil







sexta-feira, 21 de novembro de 2014

As Armações de Baleia

Açorianos, baleias francas e Penha



Açorianos, baleias francas e Penha

Maria do Carmo Ramos Krieger* 
        



            Por definição, açorianos são pessoas que pertencem aos Açores, arquipélago de Portugal localizado no Atlântico Norte, a Oeste da Europa Meridional. Já baleias francas, cujo nome científico é Eubalaena australis, são cetáceos, espécie de mamíferos aquáticos que podem chegar a medir 18 metros e pesar 40 toneladas. Por sua vez, Penha localiza-se no litoral Norte de Santa Catarina, sua orla possui 31 km de extensão e dista 110 km da capital do Estado, Florianópolis.
            O que os três nomes têm em comum? Muito mais que informações, eles traçam o perfil da história do município com a chegada dos açorianos e a caça às baleias que praticavam.
            Simples? Nem tanto! Vamos aos fatos: atualmente, nos Açores, ocorre a presença de maior número de espécies de cetáceos no Atlântico Norte, tendo sido observadas 24 delas, entre baleias e golfinhos. A atividade “Whale Watching” (turismo de observação de baleias) assume um grande significado no turismo e economia da região. Visando preservar tal patrimônio, foi estabelecido um código regulamentando a correta prática da atividade. Segundo a Direção Regional do Ambiente e Direção Regional do Turismo do Governo dos Açores, a Conduta de Observação dos Cetáceos tem regras como:
*Impedir que provocações separem animais em grupo, especialmente o isolamento de crias;
*Proibir perseguições aos cetáceos;
*Proibir a utilização de veículos motorizados de deslocamento subaquático, na área de aproximação dos cetáceos;
*Não poluir o mar com resíduos sólidos ou líquidos.
            Seguem outras recomendações na campanha Um Patrimônio a Preservar. Recebi o folder em 2006 na visita à Ilha Terceira, cuja capital, Angra do Heroísmo acolhia um grupo de brasileiros para o curso Raízes, do passado ao presente.
            Em 1777, porém, as coisas não eram tão fáceis nem para os açorianos nem para as baleias francas que habitavam o litoral catarinense. Fevereiro daquele ano marca a invasão dos espanhóis à Ilha de Santa Catarina, onde se localiza a capital. Açorianos lá chegados a partir de 1756 em grandes levas fugiam de algumas ilhas dos Açores por conta da miséria, desastres naturais ou porque eram enviados para ocuparem terras portuguesas ao sul do Brasil. Motivos diversos fizeram também que muitos deles migrassem para o Rio Grande do Sul, formando assim um contingente de colonizadores alem mar.
            Com a invasão, os espanhóis tomaram posse das armações da Ilha, as de nome Piedade e Lagoinha. O que eram armações? Segundo Mariléia e Raimundo Caruso em Índios, Baleeiros e Imigrantes (Editora Unisul, Tubarão/SC, 2000): “foram as empresas mais complexas, caras e sofisticadas da economia catarinense”. Ainda conforme os autores: “os donos das armações de baleias eram, quase sempre, portugueses da Metrópole, que pagavam pelo direito de pesca na forma de monopólio”.
            A história conta que no ano de 1777 muitos açorianos transmigraram para Itapocorói – localidade de Penha beirando uma baía abrigada de ventos e oportuna para darem continuidade à prática da caça às baleias, da qual já se ocupavam na Ilha daqui, Santa Catarina. Explico: a atividade ainda não era exercida nas ilhas de lá, do Arquipélago dos Açores. Na Ilha do Pico, por exemplo, a experiência da caça às baleias existiu, conforme relata Ermelindo Ávila no livro Emigrados Imigrantes (Ponta Delgada/Açores, 1996): “Por volta de 1850 João Paulino Laureano da Silveira construiu na Vila das Lages as primeiras casas de recolha de canoas e equipamento de pesca.     Armou um brique e iniciou a actividade. Não teve sucesso.” Há notícias de que no ano de 1861 a praça da Horta, que fica na Ilha do Faial, era regularmente frequentada pelas baleeiras americanas. A Ilha do Pico e a Ilha Faial são geograficamente muito próximas entre si e dos Estados Unidos, fato comentado no Relatório de 23/12/1867 pelo Governador Santa Rita, à frente do distrito da Horta: ”O contato em que a população da ilha se acha com os americanos dos Estados Unidos do Norte, e a frequência dos navios baleeiros daquella nação nos portos d’este districto, faz nascer a idéia das emprezas da pesca da baleia”. Assim ao levar-se em consideração a diferença de tempo entre o início da atividade baleeira nos Açores (1850) e a instalação da Armação da Piedade (1742) na Ilha de Santa Catarina, há uma margem de mais de um século. Não há como dizer que os açorianos trouxeram a referida experiência.
            O comércio baleeiro tinha o aval da Coroa Portuguesa e sua licença era concedida a ricos comerciantes portugueses aos quais cabia a instalação da armação – o lugar onde as baleias seriam processadas -, além de assumirem as despesas decorrentes do seu funcionamento, ficando com os lucros.
            O Capitão tenente Lucas Alexandre Boiteux escreveu a Pequena História de Santa Catharina (Florianópolis, edição do autor, 1918), livro que se tornou referência para historiadores, pesquisadores e estudiosos. O compêndio também tratou da Geografia dos portos e enseadas catarinenses: “Conta a sua entretalhada costa quarenta e tantas articulações capazes de receber e abrigar grandes embarcações. A começar do norte, salientam-se: S.Francisco, Itapocuroy...” Itapocorói. A grafia diverge e aparece escrita de formas diferentes em citações, porém foi o lugar escolhido para residência dos açorianos em fuga. Tornou-se ponto de referência com a Real Armação das Baleias de São João Batista da Enseada de Itapocoóia! Por que São João Batista? Já havia uma capela dedicada ao santo (1759), daí a homenagem, emprestando seu nome à armação.
            O local era conhecido por tantos quanto viajavam pelo litoral, haja vista ser passagem obrigatória na rota do sul para Desterro (hoje, Florianópolis) – situada na Ilha de Santa Catarina. Aqui cabe uma explicação: como a instalação da Armação de Itapocorói data de 1777 e a capela foi edificada anteriormente, em 1759, a diferença de dezoito anos inviabiliza qualquer especulação quanto ao fato de ter sido utilizado óleo de baleia como argamassa em sua construção. Todavia há que se considerar a possibilidade de ter sido adquirido óleo de outra armação baleeira, como da Armação da Piedade, atual município de Governador Celso Ramos, em operação a partir de 1742.
            Os cetáceos são recordistas de apneia, com capacidade de mergulhar por cerca de 45 minutos entre um borrifo e outro, respiram através dos pulmões, e necessitam vir regularmente à tona, tornando-se alvos fáceis (principalmente a baleia franca, muito dócil).  Assim a visibilidade de possíveis presas acabou originando o nome de um dos pontos essenciais para sua captura em Penha: a Ponta da Vigia – local de vigília onde os açorianos observavam o surgimento das baleias francas para, então, caçá-las.
            Em 1801 a administração da armação baleeira de Itapocorói saiu das mãos de particulares e retornou para a Coroa Portuguesa, extinguindo-se assim como monopólio e entrando em decadência, num marasmo que durou mais de três décadas, até 1834, sobrevivendo em poder de arrematantes, devido ao prejuízo causado à administração pública (Fazenda Real), a qual havia ficado submetida. Entre o controle do poder público e a gestão de particulares, a Armação de Itapocorói encerrou atividades com uma estimativa de 300 espécies caçadas em águas penhenses.
            As baleias foram agredidas em uma época que respeito ao meio ambiente era termo pouco convencional e a matança, autorizada.
            Em tempos atuais, eis que surge uma baleia franca com seu filhote (filhote?!) na praia do Quilombo, Penha, a 10 de setembro de 2007! Ficaram algum tempo passeando por águas tranquilas e a salvo. Mesmo que por um breve período aquela manhã ficou eternizada em minhas lembranças, pois tive a oportunidade de vê-los.
            O pintor Jean Baptiste Debret fez melhor: em 1829, reproduziu em aquarela embarcações na baía e as edificações da Armação, vistas do mar para terra. Uma enorme mancha nas águas sugere a presença de baleias.
        O lugar que os açorianos escolheram para morar em Penha, tem forte marca deixada por eles e imprime a herança transmitida na cultura de base açoriana no município, seja através do culto ao Divino Espírito Santo ou na Festa do Mastro de São Sebastião. Esta, porém não é original dos Açores. Tornou-se marca registrada da Armação de Itapocorói por ser um cenário que abrigou e abriga o cantar, o falar, a música, a dança e tudo mais que envolve a herança de portugueses açorianos e seus descendentes, os quais absorveram de modo admirável a cultura local.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Poesia de Belkis Stockler Fernandes / 1998


 

 

Bandeiras do Brasil


Meu pai era Filatelista e é da coleção Envelopes de 1º dia de circulação Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos a imagem de um dos envelopes, com a bandeira de Santa Catarina.

Natal dos Pretos ou Festa Nossa do Rosário, Penha/SC

Natal dos Pretos ou Festa Nossa do Rosário, Penha/SC

Maria do Carmo Ramos Krieger

             Um cartaz anunciava que a Festa de Nossa Senhora do Rosário ou Natal dos Pretos já estava com data marcada dias 5 e 6 de janeiro de 1986, na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Penha, em Penha – litoral Norte do Estado de Santa Catarina: “Natal dos Pretos. Festa tradicional da comunidade, com apresentação do Moçambique, dança folclórica. Acontecimento único na região, de características africanas trazidas pelos escravos e cultuada até hoje”.
             No início da década de 1980 conheci a festa que 'nasceu'' dos escravos – homens empregados na armação de caça à baleia que fora instalada por volta de 1778 em Itapocorói, bairro que acabou conhecido como Armação de Itapocorói.

              Cultuando suas origens, os escravos congregavam-se em torno da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, santa lembrada dia 7 de outubro no calendário da Igreja Católica. Porém os escravos transferiram tal comemoração para o dia 26 de dezembro – única folga que eles ganhavam de seus 'senhores'. Assim eles aproveitavam o dia 25 de dezembro, Natal, como data importante para o início da festa, daí a origem do nome Natal dos Pretos. Uma Santa Missa na Igreja Matriz era o primeiro momento do encontro, embora ficasse conhecida como Derradeira Noite, com a entrega das coroas do Rei e da Rainha do Rosário. Feitas em cobre, eram levadas até a Casa do Descanso, residência na qual havia uma mesa com toalha e flores preparada para recebê-las, permanecendo ali até a manhã seguinte. Dependendo do local de residência do Rei, a casa poderia ser próxima à dele ou à igreja, como aconteceu por muitos anos, sendo utilizada a residência do senhor Evilásio Adriano, no centro de Penha, onde as coroas descansavam até a manhã seguinte.
              No segundo dia dos festejos o grupo de dançantes/cantantes (o mesmo que acompanhava as cerimônias da Festa do Divino em Penha), seguiam os reis, ao som da dança folclórica Moçambique até à Casa de Descanso para apanhar as coroas. O percurso de volta à igreja era marcado pelo acompanhamento dos 'empregados de vela', pessoas amigas dos reis que as seguravam acessas e usavam faixa de cetim azul claro. O cortejo oficial, com outros súditos que se faziam presentes, como os Pajens do Rei e da Rainha, que os precediam levando as coroas em almofadas, o Juiz e a Juíza do Mastro (o mastro, anunciando a festa, já havia sido erguido na praça próxima à igreja uns dias antes e cabia aos juízes zelarem por ele), membros da Irmandade do Rosário, vestindo suas opas – capa branca com sobrepeliz azul, e o porta estandarte, que segurava um, com a imagem de Nossa Senhora do Rosário estampada, ganhava a rua do centro de Penha, principalmente ao redor da Igreja Matriz, rezando, cantando e homenageando Nossa Senhora do Rosário.
               A coroação durante a Missa do dia 26/12, o almoço oferecido logo após, a procissão da tarde com o encontro dos familiares foram momentos sempre especiais os quais assisti em dez anos de minhas temporadas de verão na localidade.
             O Natal dos Pretos foi muito significativo, como rito de passagem num sonho: ser Rei ou Rainha do Rosário. Mesmo que de curta duração, pois o reinado oficial começava na Missa da coroação, às 10 horas da manhã e terminava às 17 horas do mesmo dia, com a indicação de novos Reis do Rosário. Mas de indelével lembrança para quantos participaram dele.
              Em 1906 o Padre Heinrich Lindgens, em visita à comunidade católica de Penha, deixou registrado um texto “Natal no Brasil: muito tempo antes um negro já havia sido escolhido para ser coroado como rei da festa. Sua irmã era a rainha. Duas velhas coroas, que durante o ano ficavam abandonadas na poeira e sujeira, em algum canto da sacristia, foram limpas e, agora, brilhavam reluzente sobre o altar. Eu tinha que aspergi-las com água benta antes da Missa”.
            Apesar dos oitenta anos que separam o registro do padre Heinrich (1906) e o resultado da minha observação no último ano do Natal dos Pretos em Penha (1986), creio serem as mesmas as perguntas a serem feitas: por que os negros continuaram realizando a sua festa, apesar das dificuldades encontradas? Segundo consta, a festa acabou porque os pretos rarearam em Penha. Existe também a hipótese que não havia apoio público municipal, ao contrário do que era, e ainda o é, direcionado à Festa do Divino, quando o Prefeito Municipal destina uma verba para ajudar no custeio da festa; apesar do feriado municipal de 26 de dezembro em homenagem à data, ter proporcionado ocasião para a celebração (acabou sendo extinta com o próprio fim da festa).
              Naquela época o padre Heinrich relatava que “um boi gordo e muitas galinhas seriam servidas no almoço festivo”. Na década de 1980 eu visitava as preparações na cozinha e constatava a quantidade de batatas, galinhas e verduras preparadas para o público. Trabalho de voluntários que transformavam a cozinha num grande espaço comunitário.

              Se a Coroa revelava um código de ascensão ao poder, representando, dentro do ciclo natalino a dramatização de um grupo, as respostas e as relações deste mesmo grupo com o mundo real e o da festa, se formos comparar a rotina diária com o ritual de dois dias, vivendo o sonho
de ser Rei ou Rainha do Rosário, representavam valores simbólicos importantes, pois de operário/pescador/funcionário público o homem comum passava a ser Rei.
               Na década de 2000 aconteceram algumas tentativas de reinvenção da festa, na Capela de Nossa Senhora Aparecida, no bairro do mesmo nome, em Penha, por pessoas ligadas a movimento afro. Não deram resultado esperado.
               A eternização do cerimonial continua valorizando uma festa que, registrada em fotos, entrevistas, textos, serviu de estudo e pesquisa para muitos trabalhos, onde promessas à santa, roupa de domingo, foguetório, mastro e novenas conferiam ao Rei e à Rainha do Rosário o 'status' de prestígio e poder naquela que foi uma das  expressivas manifestações culturais de afro descente de Santa Catarina: a Festa do Rosário ou o Natal dos Pretos em Penha.
Maria do Carmo Ramos Krieger, historiadora, pesquisa a cultura popular de base açoriana em Penha, é diretora da EEB Manoel Henrique de Assis/Penha.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014